sábado, 19 de abril de 2014

DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA E SURDOCEGUEIRA

“O termo deficiência múltipla tem sido utilizado, com freqüência, para caracterizar o conjunto de duas ou mais deficiências associadas, de ordem física, sensorial, mental, emocional ou de comportamento social. No entanto, não é o somatório dessas alterações que caracterizam a múltipla deficiência, mas sim o nível de desenvolvimento, as possibilidades funcionais, de comunicação, interação social e de aprendizagem que determinam as necessidades educacionais dessas pessoas.” (MEC – 2006)
Temos também pessoas com “Deficiência Múltipla Sensorial”, que também devem ser citadas, pois apresentam peculiaridades próprias. “Considera-se uma criança com deficiência múltipla sensorial aquela que apresenta deficiência visual ou auditiva, associada a outras condições de comportamento e comprometimentos, sejam elas na área física, intelectual ou emocional, e dificuldades de aprendizagem.” (MEC/SEESP/2006).
Quase sempre, os canais de visão e audição não são os únicos afetados, mas também outros sistemas, como os sistemas tátil (toque), vestibular (equilíbrio), proprioceptivo (posição corporal), olfativo (aromas e odores) ou gustativo (sabor). “Comprometimentos em uma dessas áreas podem ter um efeito singular no funcionamento, aprendizagem e desenvolvimento da criança (Perreault, 2002).”
É importante esclarecermos que as pessoas com surdocegueira não são classificadas como múltiplas, pois quando elas têm oportunidades interagem com o meio e com as pessoas adequadamente. 
A deficiência múltipla é uma condição que resulta de uma etiologia congênita ou adquirida. Segundo Nielsen, é difícil para uma pessoa lidar com uma deficiência se seus recursos são insuficientes por outra deficiência. E que devemos pensar, no caso de uma pessoa cega com déficit intelectual, que é uma pessoa deficiente cuja cegueira esta multiplicada pelo déficit de inteligência. A autora diz ainda que quanto maior for o numero de deficiências, maior o risco da pessoa não conseguir fazer uso de todas as habilidades que possui e, assim sendo, a associação de diferentes problemas resultará em necessidades educacionais únicas.
De acordo com Nunes (2002), as necessidades das pessoas com deficiência múltipla podem ser agrupadas em três blocos:
·  Necessidades físicas e médicas, como por exemplo: a Paralisia Cerebral, que compromete a postura e a mobilidade. Os movimentos voluntários são limitados em termos qualitativos e quantitativos; Limitações sensoriais (visual e auditiva); Convulsões; Controle respiratório e pulmonar; Problemas com deglutição e mastigação; Saúde mais frágil com pouca resistência física.
·     Necessidades emocionais de: Afeto; Atenção; Oportunidades de interagir com o meio e com o outro; Desenvolver relações sociais e afetivas; Estabelecer uma relação de confiança.
·      Necessidades educativas devido a: Limitações no acesso ao ambiente; Dificuldades em dirigir atenção para estímulos relevantes; Dificuldades na interpretação da informação; Dificuldades na generalização.
A comunicação é de extrema importância na aquisição de uma boa qualidade de vida e as principais vias de acesso à comunicação são a visão e a audição. A perda de uma ou ambas limita a aprendizagem incidental, onde a criança recebe e procura ativamente informações seja na interação com o meio ou com outro, proporcionando experiências significativas e fazendo associações com experiências prévias e assim aprendendo.
Nunes (2002) coloca que a limitação no acesso à aprendizagem incidental faz com que a pessoa receba informações de maneira fragmentada ou distorcida, sendo então essencial ensinar o que os outros aprendem acidentalmente.
Além disso coloca também que a dificuldade na comunicação cria limitações na interação com os outros e com o meio levando a pessoa a ter poucas experiências sociais.
A mesma autora discorre sobre as conseqüências que podem ocorrer da falta de uma comunicação. O isolamento social pode levar a dificuldades comportamentais e emocionais, como por exemplo, hiperatividade, comportamentos obsessivos, agressividade e auto-agressão, estereotipias, auto-estimulação, distúrbios de atenção, entre outros.
Analisando as necessidades de uma pessoa com deficiência múltipla e as conseqüências que a falta de comunicação pode trazer, a abordagem educacional deve ter estratégias planejadas de forma sistemática, num modelo de colaboração na qual a comunicação seja a prioridade central. 
É necessário organizar o mundo da pessoa por meio do estabelecimento de rotinas claras e uma comunicação adequada. É preciso desenvolver atividades de maneira multisensorial para garantir aproveitamento de todos os sentidos e que sejam atividades que proporcionem uma aprendizagem significativa com oportunidades de generalizar para outros ambientes e pessoas (atividade funcional). 
A pessoa com deficiência múltipla necessita de um ambiente reativo, isto é, que responda a suas iniciativas. Seu tempo de resposta deve ser respeitado e a habilidades de fazer escolhas deve estar dentro de suas atividades programadas.
Ainda segundo Nunes (1999) no trabalho com a pessoa com DMU é importante o trabalho em equipe que envolva a colaboração de todos com os quais essa pessoa convive: a família, os profissionais envolvidos no processo educativo e de saúde. Desta forma, a intervenção se torna mais rica e a responsabilidade é compartilhada por todos, assim a família não se sente tão isolada e o sucesso não é apenas atribuído à escola.
Todos devem trabalhar visando à máxima independência possível da pessoa ensinando a ter autonomia para levar uma vida digna. Independência possível no sentido de considerar as dificuldades motoras e cognitivas da pessoa.
Denomina – se surdocego aquele que possui dificuldades visuais e auditivas, independentemente da sua qualidade. “Uma pessoa que tenha deficiência visual e auditiva de um grau de tal importância, que esta dupla perda sensorial cause problemas de aprendizagem, de conduta e que possa afetar suas possibilidades de trabalho”. OLSON, Stig, surdocegueira especiais. Apresentação na “A surdez: um mundo de encontro”; Santa Fé de Bogotá, 1995.
A surdocegueira é uma deficiência única e especial que requer métodos de comunicação especial para viver com as funções da vida cotidiana. (BEST Tony InformationGuide, definições de surdocegueira usadas em outros países. Documento sem editar).
A surdocegueira é uma limitação que se caracteriza por:
·      Sérios problemas relacionados com a comunicação e com o meio;
·      Sérios problemas relacionados com a orientação no meio;
·      Sérios problemas relacionados à obtenção de informação. (Mcines, johnProgamming for congenital and early adventitiosdeafblind adults).
A surdocegueira pode ser congênita ou adquirida.
·      Congênita: quem nasce com esta única deficiência, como por exemplo pela rubéola adquirida no ventre da mãe;
·      Adquirida: quando a pessoa nasce ouvinte, vidente, surda ou cega e adquire, por diferentes fatores, a surdocegueira.
Para entender o que é surdocegueira, faz – se necessária uma explicação sobre a sua grafia. Segundo Lagati (1995, p. 306), a surdocegueira é uma condição que apresenta outras dificuldades além daquelas causadas pela cegueira e pela surdez. O termo hifenizado indica uma condição que somaria as dificuldades da surdez e da cegueira. A palavra sem hífen indicaria uma diferença, uma condição única e o impacto da perda dupla é multiplicativa e não aditiva. Já para McInnes (1999), a premissa básica é que a surdocegueira é uma deficiência única que requer uma abordagem específica para favorecer a pessoa com surdocegueira e um sistema para dar este suporte. O referido autor subdivide as pessoas com surdocegueira em quatro categorias;
·      Indivíduos que eram cegos e se tornaram surdos;
·      Indivíduos que eram surdos e se tornaram cegos;
·      Indivíduos que se tornaram surdocegos;
·      Indivíduos que nasceram ou adquiriram surdocegueira precocemente, ou seja não tiveram a oportunidade de desenvolver linguagem, habilidades comunicativas ou cognitivas nem base conceitual sobre a qual possam construir uma compreensão de mundo. O mesmo autor (1999) relata que muitos indivíduos com surdocegueira precocemente têm deficiência associadas como: físicas e intelectuais. Estas quatro categorias podem ser agrupadas em Surdocegos Congênitos ou Surdocegos Adquiridos. E dependendo da idade em que a surdocegueira se estabeleceu pode – se classificá-la em Surdocegos Pré- lingüísticos ou Surdocegos Pós – lingüísticos.
Segundo Mc Innes (1999) indivíduos com surdocegueira demonstram dificuldade em observar, compreender e imitar o comportamento de membros da família ou de outros que venha entrar em contato, devido à combinação das perdas visuais e auditivas que apresentam.
A interação Social e a Comunicação são aspectos fundamentais para o desenvolvimento da linguagem. Os termos “interação social” estão intimamente relacionados. Tomemos por definição de interação social o processo pelo qual dois indivíduos influenciam mutuamente os atos um do outro. A comunicação implica em interação, e mais, a comunicação é definida como uma forma de interação em que o significado é transmitido por meio do uso Atendimento Educacional Especializado – AEE: SURDOCEGUEIRA E DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA.
Sua comunicação inicial é pelo movimento corporal e vocalizações. Precisam aprender por rotinas organizadas. A caixa de antecipação será sua primeira estratégia de comunicação.


BIBLIOGRAFIA 

Bosco, Ismênia Carolina Mota Gomes. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar : surdocegueira e deficiência múltipla / Ismênia Carolina Mota Gomes Bosco, Sandra Regina Stanziani Higino Mesquita, Shirley Rodrigues Maia. - Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial ; [Fortaleza] : Universidade Federal do Ceará, 2010. 

ROWLAND Charity e SCHWEIGERT Philip - Soluções Tangíveis para Indivíduos Com Deficiência Múltipla e ou com Surdocegueira. Apostila In mimeo. Tradução Acess. Revisão: Shirley R. Maia - 2013. 

IKONOMIDIS, Vula Maria Apostila sobre “Deficiência Múltipla Sensorial”, 2010 sem publicar.

SERPA, Ximena Fonegra, Comunicação para Pessoas com Surdocegueira. Tradução do livro Comunicacion para Persona Sordociegas, INSOR-Colômbia 2002.

Godfrey, Gretchen Um Guia para os Pais: Desenho Universal para a Aprendizagem, Centro ALIANÇA de Assistência Técnica 2003, tradução ACESS0 2012 - Projeto Horizonte.

Maia, Shirley Rodrigues Aspectos Importantes para saber sobre Surdocegueira e Deficiência Múltipla.

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