As imagens, os gráficos e os mapas são
partes integrantes e complementares dos textos. Por isso, no caso dos cegos,
essa informação visual deve ser descrita, com o intuito de oferecer ao sujeito
a maior quantidade possível da informação contida no material/texto. As tabelas
devem ser cuidadosamente estruturadas, para que seus dados sejam devidamente
compreendidos quando lidos célula por célula ou em modo linearizado (linha por
linha). As imagens devem ser descritas levando em consideração seus aspectos mais
importantes e devem sempre ser contextualizadas. Isso se justifica pelo fato de
os usuários cegos utilizarem um recurso chamado leitor de telas, que, por meio
de um sintetizador de voz, sonoriza todas as informações textuais contidas em
um documento ou site, por exemplo.
A audiodescrição, doravante AD, é uma modalidade de tradução
audiovisual que se constitui como um recurso de acessibilidade que atende as
necessidades das pessoas com deficiência visual. A AD consiste na descrição das
informações apreendidas visualmente, que não estão contidas nos diálogos,
nem nos efeitos sonoros de uma produção audiovisual, tornando a mesma acessível
para quem não enxerga. A AD é considerada um processo de tradução baseado em
Jakobson (1995), que identifica três tipos de tradução: a interlinguística
(entre línguas diferentes), a intralinguística (dentro da mesma língua) e a
intersemiótica (entre meios semióticos diferentes, do visual para o verbal e do
verbal para o visual). A AD seria o exemplo do terceiro tipo apresentado pelo
autor (JAKOBSON, 1995, p. 64 - 65).
A descrição é a leitura fiel da imagem contida no que se deseja transmitir ao cego, porém ler uma imagem é um processo complexo. São inúmeras as
teorias que podem ser utilizadas de acordo com o propósito da imagem. A título
exemplificativo, citamos o excerto de texto a seguir:
[...]
Maldonado (1977) considera que existe um percurso obrigatório para a leitura de
imagens; Tardy (1964) considera que essa leitura é sempre feita no sentido do
movimento dos ponteiros do relógio, sendo que nos detemos mais tempo sobre o
lado esquerdo da imagem; Lindekens (1971), por sua vez, considera que a leitura
de uma imagem segue o padrão da leitura do texto escrito; Lyotard (1979)
defende que essa leitura dependerá da cultura e sensibilidade de quem o faz.
(FRANCISCO; NEVES, 2010)
Assim, é inevitável que cada leitura seja uma leitura individual,
fato que torna o trabalho de quem descreve imagens particularmente difícil,
pois a neutralidade é praticamente impossível. Uma imagem pode ter diversas
formas de serem vistas, e a forma de cada um percebê-la e apreciá-la é pessoal.
Por isso, chamamos a atenção para a tentativa de imparcialidade, já que se deve
evitar impor a interpretação do descritor ao que a imagem está retratando.
Sentimentos são muito relativos, e cada indivíduo tem seu próprio entendimento
do que está sendo reproduzido. Então, ao descrever uma fotografia, por exemplo,
pode-se afirmar que na imagem há uma
moça sorrindo, mas não se pode dizer que ela está feliz.
Além disso, a descrição e os detalhes de uma ilustração
podem determinar o papel que ela desempenha no contexto. Não sabemos o nível de
abstração da pessoa que a está ouvindo, qual seu grau de baixa visão, se já
enxergou alguma vez e por quanto tempo. Por isso, partimos do princípio de que
o aluno conhece o básico para sua possível idade de acordo com cada série.
A qualidade da descrição das imagens deve ser considerada, visto que dela depende o completo entendimento de um texto por parte da pessoa com deficiência visual.
A Nota Técnica no 21 (BRASIL, 2012),
divulgada em 10 de abril de 2012 pelo MEC, traz orientações para a descrição de
imagem na geração de material digital acessível – MecDaisy. Segundo essa nota,
“a descrição de imagens é a tradução em palavras, a construção de retrato
verbal de pessoas, paisagens, objetos, cenas e ambientes, sem expressar
julgamento ou opiniões pessoais a respeito” (BRASIL, 2012). Examinaram-se,
ainda, os requisitos para a descrição de imagens na geração de material digital
acessível, tais como: descrever as circunstâncias da ação (faz o quê/como);
identificar os enquadramentos da imagem, como, por exemplo, um plano geral,
onde estão inseridos os personagens e o ambiente; após a apresentação da
imagem, acrescentar a legenda, descrição e fonte; verificar a correspondência
entre a imagem e o texto, a fim de garantir a fidedignidade da descrição;
identificar os elementos relevantes na imagem; usar o tempo verbal sempre no
presente; iniciar a descrição usando expressões como: charge, cartum, história
em quadrinhos e tira cômica.
Veja um
exemplo de como você pode descrever as tirinhas para os alunos cegos ou com
baixa visão:
Legenda: tira cômica, sem título, com a personagem argentina Mafalda, do cartunista Quino.
Descrição: a tirinha colorida, com 4 quadros,
mostra Mafalda, uma menininha de aproximadamente 7 anos, com blusa
vermelha de gola branca, laço vermelho nocabelo preto com franja, lendo
um livro, que está sobre uma mesa redonda. Suas falas estão dentro de
balões.
Q1: Mafalda debruçada sobre o livro, com a mão segurando o rosto, lê: Ema vê a mesa da sala de estar.
Q2: Mafalda vira-se para o lado e pergunta: Mamãe, o que é sala de estar?
Q3: Sentada à mesa, com as mãos sobre o livro, ela escuta a resposta: É living. Ela responde: Ah, bom!
Q4: Mafalda, com a testa franzida e debruçada sobre o
livro e a mão segurando o rosto, reclama: Afinal, por que eles não
escrevem esses livros na língua da gente?
Tirinha disponível em:
BRASIL. Nota Técnica, Nº 21. Orientações para descrição de imagem na geração de material digital acessível - Mecdaisy. MEC/SECADI/DPEE, 2012. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=10538&Itemid=.
BRASIL. Nota Técnica, Nº 21. Orientações para descrição de imagem na geração de material digital acessível - Mecdaisy. MEC/SECADI/DPEE, 2012. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=10538&Itemid=.
por luzivete viana - adaptado por Blog da Audiodescrição
Fonte: AEE 2013
SUPER NORMAIS – O PODER DA DIFERENÇA.
A
tirinha de 30/01/2013, em preto e branco, com um quadro, apresenta duas
crianças: um menino em cadeira de rodas e uma menina de cabelos presos e
vestido de bolinhas. Os dois estão parados no lado esquerdo, em um
parque, olhando para uma gangorra de madeira, no outro lado. O menino
diz: Os meus pais me ensinaram que esse brinquedo se chama vida. A
menina esboça um leve sorriso.
Audiodescrição: VER COM PALAVRAS
Narração: Marcelo Sanches
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BRASIL. Nota Técnica, Nº 21. Orientações para descrição de imagem na geração de material digital acessível - Mecdaisy. MEC/SECADI/DPEE, 2012.
PONTE, Marina Dal; SALVATON, Tamara; SONZA, Andréa Poletto. Material digital acessível para
deficientes visuais: ampliando o acesso à informação.
FRANCISCO, Manuela; NEVES, Josélia. Ver com os ouvidos
e ouvir com os olhos. In: MACHADO, Glaucio José Couri (Org.). Educação e
ciberespaço: estudos, propostas e desafios. Aracaju: Virtus, 2010.
SONZA, Andréa Poletto. Ambientes virtuais
acessíveis sob a perspectiva de usuários com limitação visual. Tese
(Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de
Pós-Graduação em Informática na Educação, Porto Alegre, 7 maio 2008.
Links da descrição e audiodescrição: