terça-feira, 26 de novembro de 2013

DESCRIÇÃO E AUDIODESCRIÇÃO

                 Sabe-se que pessoas com deficiência visual, sejam cegos ou com baixa visão (visão subnormal), enfrentam diversas barreiras quanto ao acesso à informação em virtude de uma parte considerável das informações ser apresentada de forma visual.
As imagens, os gráficos e os mapas são partes integrantes e complementares dos textos. Por isso, no caso dos cegos, essa informação visual deve ser descrita, com o intuito de oferecer ao sujeito a maior quantidade possível da informação contida no material/texto. As tabelas devem ser cuidadosamente estruturadas, para que seus dados sejam devidamente compreendidos quando lidos célula por célula ou em modo linearizado (linha por linha). As imagens devem ser descritas levando em consideração seus aspectos mais importantes e devem sempre ser contextualizadas. Isso se justifica pelo fato de os usuários cegos utilizarem um recurso chamado leitor de telas, que, por meio de um sintetizador de voz, sonoriza todas as informações textuais contidas em um documento ou site, por exemplo.
A audiodescrição, doravante AD, é uma modalidade de tradução audiovisual que se constitui como um recurso de acessibilidade que atende as necessidades das pessoas com deficiência visual. A AD consiste na descrição das informações apreendidas visualmente,  que não estão contidas nos diálogos, nem nos efeitos sonoros de uma produção audiovisual, tornando a mesma acessível para quem não enxerga. A AD é considerada um processo de tradução baseado em Jakobson (1995), que identifica três tipos de tradução: a interlinguística (entre línguas diferentes), a intralinguística (dentro da mesma língua) e a intersemiótica (entre meios semióticos diferentes, do visual para o verbal e do verbal para o visual). A AD seria o exemplo do terceiro tipo apresentado pelo autor (JAKOBSON, 1995, p. 64 - 65).
A descrição é a leitura fiel da imagem contida no que se deseja transmitir ao cego, porém ler uma imagem é um processo complexo. São inúmeras as teorias que podem ser utilizadas de acordo com o propósito da imagem. A título exemplificativo, citamos o excerto de texto a seguir:
 
[...] Maldonado (1977) considera que existe um percurso obrigatório para a leitura de imagens; Tardy (1964) considera que essa leitura é sempre feita no sentido do movimento dos ponteiros do relógio, sendo que nos detemos mais tempo sobre o lado esquerdo da imagem; Lindekens (1971), por sua vez, considera que a leitura de uma imagem segue o padrão da leitura do texto escrito; Lyotard (1979) defende que essa leitura dependerá da cultura e sensibilidade de quem o faz. (FRANCISCO; NEVES, 2010)
 
Assim, é inevitável que cada leitura seja uma leitura individual, fato que torna o trabalho de quem descreve imagens particularmente difícil, pois a neutralidade é praticamente impossível. Uma imagem pode ter diversas formas de serem vistas, e a forma de cada um percebê-la e apreciá-la é pessoal. Por isso, chamamos a atenção para a tentativa de imparcialidade, já que se deve evitar impor a interpretação do descritor ao que a imagem está retratando. Sentimentos são muito relativos, e cada indivíduo tem seu próprio entendimento do que está sendo reproduzido. Então, ao descrever uma fotografia, por exemplo, pode-se afirmar que na imagem há uma  moça sorrindo, mas não se pode dizer que ela está feliz.
Além disso, a descrição e os detalhes de uma ilustração podem determinar o papel que ela desempenha no contexto. Não sabemos o nível de abstração da pessoa que a está ouvindo, qual seu grau de baixa visão, se já enxergou alguma vez e por quanto tempo. Por isso, partimos do princípio de que o aluno conhece o básico para sua possível idade de acordo com cada série.
A qualidade da descrição das imagens deve ser considerada, visto que dela depende o completo entendimento de um texto por parte da pessoa com deficiência visual. 
A Nota Técnica no 21 (BRASIL, 2012), divulgada em 10 de abril de 2012 pelo MEC, traz orientações para a descrição de imagem na geração de material digital acessível – MecDaisy. Segundo essa nota, “a descrição de imagens é a tradução em palavras, a construção de retrato verbal de pessoas, paisagens, objetos, cenas e ambientes, sem expressar julgamento ou opiniões pessoais a respeito” (BRASIL, 2012). Examinaram-se, ainda, os requisitos para a descrição de imagens na geração de material digital acessível, tais como: descrever as circunstâncias da ação (faz o quê/como); identificar os enquadramentos da imagem, como, por exemplo, um plano geral, onde estão inseridos os personagens e o ambiente; após a apresentação da imagem, acrescentar a legenda, descrição e fonte; verificar a correspondência entre a imagem e o texto, a fim de garantir a fidedignidade da descrição; identificar os elementos relevantes na imagem; usar o tempo verbal sempre no presente; iniciar a descrição usando expressões como: charge, cartum, história em quadrinhos e tira cômica.
 
Veja um exemplo de como você pode descrever as tirinhas para os alunos cegos ou com baixa visão:
 
tirinha da mafalda
  
Legenda: tira cômica, sem título, com a personagem argentina Mafalda, do cartunista Quino.
Descrição: a tirinha colorida, com 4 quadros, mostra Mafalda, uma menininha de aproximadamente 7 anos, com blusa vermelha de gola branca, laço vermelho nocabelo preto com franja, lendo um livro, que está sobre uma mesa redonda. Suas falas estão dentro de balões.
Q1: Mafalda debruçada sobre o livro, com a mão segurando o rosto, lê: Ema vê a mesa da sala de estar.
Q2: Mafalda vira-se para o lado e pergunta: Mamãe, o que é sala de estar?
Q3: Sentada à mesa, com as mãos sobre o livro, ela escuta a resposta: É living. Ela responde: Ah, bom!
Q4: Mafalda, com a testa franzida e debruçada sobre o livro e a mão segurando o rosto, reclama: Afinal, por que eles não escrevem esses livros na língua da gente?
 
Tirinha disponível em:
BRASIL. Nota Técnica, Nº 21. Orientações para descrição de imagem na geração de material digital acessível - Mecdaisy. MEC/SECADI/DPEE, 2012. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&task=doc_download&gid=10538&Itemid=.
por luzivete viana - adaptado por Blog da Audiodescrição
Fonte: AEE 2013
 
 
            
SUPER NORMAIS – TIRINHA 7 COM AUDIODESCRIÇÃO
                       
TIRINHA 7

OUÇA AQUI O AUDIO DA TIRINHA 7 ou leia em texto abaixo:

 
SUPER NORMAIS – O PODER DA DIFERENÇA.
A tirinha de 30/01/2013, em preto e branco, com um quadro, apresenta duas crianças: um menino em cadeira de rodas e uma menina de cabelos presos e vestido de bolinhas. Os dois estão parados no lado esquerdo, em um parque, olhando para uma gangorra de madeira, no outro lado. O menino diz: Os meus pais me ensinaram que esse brinquedo se chama vida. A menina esboça um leve sorriso.
 
Audiodescrição: VER COM PALAVRAS

Narração:
Marcelo Sanches

 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
 
BRASIL. Nota Técnica, Nº 21. Orientações para descrição de imagem na geração de material digital acessível - Mecdaisy. MEC/SECADI/DPEE, 2012.
 
PONTE, Marina Dal; SALVATON, Tamara; SONZA, Andréa Poletto. Material digital acessível para deficientes visuais: ampliando o acesso à informação.
FRANCISCO, Manuela; NEVES, Josélia. Ver com os ouvidos e ouvir com os olhos. In: MACHADO, Glaucio José Couri (Org.). Educação e ciberespaço: estudos, propostas e desafios. Aracaju: Virtus, 2010.
 
SONZA, Andréa Poletto. Ambientes virtuais acessíveis sob a perspectiva de usuários com limitação visual. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Informática na Educação, Porto Alegre, 7 maio 2008.
 
 
Links da descrição e audiodescrição: